Epidemias e Pandemias: Desmatamentos e Devastação Ambiental – se continuarem você vai morrer!

As piores chagas da humanidade são causadas pela ganância capitalista que provoca a devastação ambiental – ou mudamos nossa mentalidade ou morreremos todos.

Parece manchete sensacionalista e exagerada, mas infelizmente não é.
E não foi por falta de aviso de cientistas e dos ambientalistas.

O saudoso geógrafo e professor Dr. Jean-Louis Boudou (UFES) escreveu na apresentação de seu livro: Guia Geográfico Prático – de implantação de um programa permanente de conciliação entre Cidadania e Ambiente (2005), que não teve tempo de publicar por conta de seu falecimento:

“Desde 1982 Fritjof Capra chama a atenção sobre o fato que a Humanidade acabava de alcançar mais um “Ponto de Mutação”. Evidentemente, esta afirmação pode ser entendida de inúmeras maneiras e se aplica a um sem número de aspectos, mas o presente documento pretende focalizar apenas o tema do “pleno exercício da cidadania” frente a emergente preocupação ambiental e, assim, superar o impasse da pretensa dicotomia: abordagem “ambiental” versus abordagem “social”.
Não devem ser contrapostas a corrente “ambientalista” e a corrente “socialista” (“ecossocialismo”); pelo contrário trata-se de uní-las na história da humanidade de maneira orgânica e profunda.

Não apenas uma conciliação é possível mas também é necessária e até mesmo impreterível. É urgentíssimo mudar de ponto de vista, eliminar os preconceitos, acabar com os MITOS e os RITOS e sem tabu, sem manipulação, sem ideologia, sem adestramento, sem programação, sem operações diversionistas… descobrir, ou redescobrir, o encantamento da “condição humana”.

Os problemas ambientais e os problemas sociais não são, fundamentalmente, problemas de biologia, de ecologia, de química… nem problemas de sociologia, de economia, de história… São problemas de “cabeça”, isto é, problema de enfoque, ou seja, de jeito de encarar o ser humano, o seu entorno e suporte, e as inter-relações tecidas entre ambos (“conexões”). (…)” [grifos nossos]. (BOUDOU, 2005 – texto ainda não publicado).

Em algum ponto mais adiante, Boudou (2005) ressalta:

“(…). Já é tarde demais; não se pode mais fugir das nossas responsabilidades, como cidadãos e como geógrafos. Basta de covardia; basta de belos discursos retóricos; basta de conforto acadêmico! É hora de assumir os desafios e nos comprometer com as dimensões sociais e ambientais (indissoluvelmente incorporadas umas às outras) do futuro da humanidade a bordo do nosso pequeno planeta. (…)” [grifo nosso]. (BOUDOU, 2005 – texto ainda não publicado).


PANDEMIA DE CORONAVIRUS (covid-19) E O MEIO AMBIENTE

HOJE, dia 18 de março de 2020, o jornal BRASIL DE FATO, publicou a matéria “Ação humana contra o meio ambiente causou a pandemia do coronavírus, diz pesquisador“, onde Allan Carlos Pscheidt, doutor em Biodiversidade Vegetal e Meio Ambiente e professor das Faculdades Metropolitanas Unidas, em São Paulo, afirma categoricamente que “o novo coronavírus se alastrou pelo mundo graças à ação destrutiva e invasora do ser humano contra a natureza“.

“O organismo que causa a covid-19 está há tempos no meio ambiente, provavelmente alojado em morcegos nativos de cavernas intocadas, segundo o professor. Com a crescente urbanização e consequente invasão humana, porém, o vírus quebrou seu ciclo natural e alcançou outros seres, como o homem, cujo organismo ainda não está preparado para combatê-lo.

De acordo com o pesquisador, a pandemia deixa lições claras: precisamos nos preocupar urgentemente com o consumo desenfreado, a destruição recorrente do planeta e as mudanças climáticas. A disseminação do novo coronavírus é resultado direto disso.

Pscheidt alerta que, em um mundo interligado como o que vivemos hoje, epidemias virais devem se tornar cada vez mais comuns. Para ele, se não evoluirmos para uma sociedade mais consciente e menos egoísta, não teremos muito mais tempo por aqui. (…)”. (BRASIL DE FATO, 2020).

Quem quiser conferir a entrevista que se segue com o professor Pscheidt, clique aqui.


DESMATAMENTOS: NIPAH, LASSA, MALÁRIA e DOENÇA DE LYME

Apenas cerca de 4 meses atrás, a National Geographic publicou a seguinte matéria: “Desmatamento está causando aumento de doenças infecciosas em humanos – com o aumento na derrubada das florestas ao redor do mundo, os cientistas temem que a próxima pandemia mortal possa surgir de dentro desses ambientes.“.

Floresta derrubada para fins pecuários nas bordas da Rodovia Transamazônica. O desmatamento visto nesta foto facilita ...
Floresta derrubada para fins pecuários nas bordas da Rodovia Transamazônica.
O desmatamento visto nesta foto facilita a proliferação de doenças infecciosas, como a malária.
FOTO DE RICHARD BARNES, NAT GEO IMAGE COLLECTION

Segundo ela, “Em 1997, nuvens de fumaça pairavam sobre as florestas tropicais da Indonésia após a queimada de uma área com tamanho aproximado ao do estado americano da Pensilvânia para expansão agrícola, queimada essa que ainda foi agravada pela seca na época. Sufocadas pela névoa, as árvores não davam frutos, forçando a população de morcegos frugívoros a voarem para outros locais em busca de alimento, levando consigo uma doença mortal.

Logo que os morcegos se assentaram nas árvores de pomares malaios, os porcos que lá habitavam começaram a adoecer — presume-se que depois de comerem frutas já mordiscadas pelos morcegos — assim como os suinocultores locais. Até 1999, 265 pessoas haviam desenvolvido uma grave inflamação cerebral, 105 delas vindo a óbito. Foi a primeira manifestação conhecida do vírus Nipah em humanos, que, desde então, vem causando uma série de surtos recorrentes em todo o sudeste asiático.

Ela é apenas uma dentre tantas doenças infecciosas que, antes confinadas à vida selvagem, agora se alastram para áreas que estão sendo rapidamente desmatadas. Nas últimas duas décadas, cada vez mais evidências científicas sugerem que o desmatamento, ao dar início a uma complexa cadeia de acontecimentos, cria condições para que se espalhe entre os humanos uma vasta gama de patógenos mortais — como os vírus Nipah e Lassa, e os parasitas causadores da malária e da doença de Lyme.

Com as amplas queimadas que ainda continuam nas florestas tropicais da região amazônica, assim como em partes da África e do sudeste asiático, especialistas expressam preocupação quanto à saúde de quem vive às margens do desmatamento. Eles também temem que [O DESMATAMENTO das] florestas do nosso planeta deem origem à próxima pandemia.

“Já é algo bem estabelecido que o desmatamento pode ser um grande fator de transmissão de doenças infecciosas”, diz Andy MacDonald, ecologista especializado em doenças do Instituto de Geociências da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. “Trata-se de um jogo numérico: quanto mais degradarmos e retirarmos os habitats florestais, mais expostos estaremos a situações de epidemias infecciosas.” (…)”. [grifo nosso]. (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019).

“A Borrelia burgdorferi, bactéria que causa a doença de Lyme, é transmitida por carrapatos que dependem do cervo florestal para se reproduzirem e obterem sangue suficiente à sua sobrevivência. A bactéria, contudo, também é encontrada no camundongo-de-patas-brancas, que, por acaso, prolifera-se nas florestas fragmentadas por assentamentos humanos, afirma MacDonald. (…)

(…). O ser humano pode contrair o vírus de Lassa ao entrar em contato com alimentos ou objetos contaminados por fezes ou urina de roedores portadores desse vírus ou com os fluidos corporais de pessoas infectadas. Nos humanos, o vírus causa febre hemorrágica — o mesmo tipo de enfermidade causada pelo vírus do Ebola —, tendo levado à morte 36% dos infectados na Libéria. (…)”. [grifo nosso]. (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019).


DESMATAMENTOS: NIPAH, HIV (Aids), EBOLA, e ZICAVÍRUS

Os mosquitos não são os únicos vetores capazes de transmitir doenças aos humanos. Na verdade 60% das novas doenças infecciosas manifestadas em seres humanos — como o HIV, o Ebola, Nipah, a agora o Coronavírus (covid-19), todas originadas em animais, a maioria graças ao contato por causa de grandes devastações ambientais.

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Lixo e desmatamento estão entre as causas ambientais da proliferação do zika (GAZETA DO POVO)
(Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/saude/lixo-e-desmatamento-estao-entre-as-causas-ambientais-da-proliferacao-do-zika-732iu6h9rvpqljud3rc50z4ds/)

Mas não adianta culpar os animais (como alguns assassinatos ignorantes de macacos no ES diante a Febre Amarela – crime inafiançável), que na verdade são vítimas da ação desmatadora humana, e muitas vezes são nossos aliados pois morrem antes, nos alertando e indicando a presença da doença (patógeno) no ambiente.

Ainda segundo a National Geographic, “(…) num estudo de 2015, pesquisadores da Ecohealth Alliance, organização sem fins lucrativos de Nova York que acompanha as doenças infecciosas no mundo todo, junto a outros pesquisadores, descobriram que “aproximadamente um em cada três surtos de doença(s) nova(s) e emergente(s) está ligado à mudança no uso da terra, como o desmatamento”, afirmou o presidente da organização, Peter Daszak, em tuíte publicado neste ano.

Muitos vírus habitam seus hospedeiros florestais de forma inócua, porque esses animais evoluíram junto com tais vírus. Os seres humanos, porém, podem transformar-se em hospedeiros involuntários de patógenos ao se aventurarem ou alterarem o habitat florestal. (…).

O alastramento de doenças infecciosas para os humanos é mais provável nos trópicos porque a diversidade geral da fauna e dos patógenos é maior, acrescenta. Nessas regiões, já se estabeleceu a relação entre o desmatamento e diversas doenças transmitidas por uma vasta gama de animais — desde insetos hematófagos a caracóis. Além das doenças conhecidas, os cientistas temem que diversas doenças mortais ainda desconhecidas estejam à espreita nas florestas, expostas com a invasão do homem. (…)

Vittor [Amy Vittor, epidemiologista do Instituto de Patógenos Emergentes da Universidade da Flórida] diz que, se essas doenças ficarão confinadas à periferia das florestas ou se conquistarão um espaço entre os humanos, desencadeando uma possível pandemia, tudo depende da transmissão. Alguns vírus, como o Ebola ou o Nipah, podem ser transmitidos diretamente entre humanos, o que teoricamente lhes permite viajar o mundo enquanto o homem existir.

vírus da Zika, descoberto em florestas de Uganda no século 20, só pôde cruzar o mundo e infectar milhões de pessoas porque encontrou no Aedes aegpti, mosquito abundante em áreas urbanas, um hospedeiro.

“Não gosto de pensar que exista um ou mais patógenos capazes da mesma coisa, mas seríamos ingênuos se não nos prepararmos para essa possibilidade”, diz Vittor.
(…)”. (NATIONAL GEOGRAPHIC, 2019).

Ao fim desta matéria, MacDonald arremata afirmando que o lado positivo que tem em mente é que: “Se conseguirmos conservar o meio ambiente, talvez possamos, de quebra, proteger a saúde”.


DESMATAMENTOS: GRIPE, SARAMPO, DENGUE, CHIKUNGUNYA e FEBRE AMARELA

Na matéria da coluna VIVA BEM (UOL e Agência Einstein) de 10/03/2020, na matéria Em tempos de coronavírus, não esqueça de gripe, sarampo e dengue, afirmam que “Para ter uma ideia, em 2019 foram cerca de 1 bilhão de casos de gripe no planeta, com 291 mil a 646 mil mortes. No Brasil, de acordo com informações preliminares do Ministério da Saúde, até 29 de fevereiro deste ano foram registrados 90 casos, com 6 mortes — em 2019, houve 5.714 casos e 1.109 óbitos. (…)

“(…) Outro problema para o qual existe vacina e que provocou surtos em vários países no ano passado, inclusive o Brasil, foi o sarampo. Um dos motivos foi a queda nas taxas de imunização, em parte estimuladas pelos grupos antivacina. Foram 18.203 casos confirmados entre nós, com 15 mortes, sendo 14 em São Paulo, onde houve uma irrupção com 16.090 ocorrências. Chegamos a perder o certificado de país livre da doença outorgado pela Opas (Organização Panamericana de Saúde) em 2016.

No quesito de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti, a dengue, segundo o Ministério da Saúde, contabilizou 1.544.987 de casos prováveis no ano passado, aumento de 488% em relação a 2018, com 728 óbitos. As ocorrências de Chikungunya ficaram no patamar de 132.205 e as de Zika, 10.768.” (UOL, 2020).

Outra doença causada por mosquitos que pode levar à morte é a Febre Amarela (FA), que em tempos de Coronavírus, parece ter sido esquecida pela grande mídia. Segundo o Ministério da Saúde (Brasil – Monitoramento da febre amarela – 2019/2020), publicado em 05/02/2020:

“No período de monitoramento atual (2019/2020), iniciado em julho/2019, foram notificados 1.277 eventos envolvendo a morte de macacos com suspeita de FA, das quais 46 epizootias foram confirmadas por critério laboratorial, 394 foram descartadas, 320 permanecem em investigação e 517 foram classificadas como indeterminadas, por não ter sido possível coletar amostras para diagnóstico (…). As detecções do vírus amarílico em PNH foram registradas em São Paulo (3), Paraná (41) e Santa Catarina (2) (…), sinalizando a circulação ativa do vírus nesses estados e o aumento do risco de transmissão às populações humanas com a chegada do verão.”.

Infelizmente a mesma matéria (do Ministério da Saúde, heim) continua o texto de forma completamente equivocada, ao indicar como fator de propagação as áreas de corredores ecológicos (que preservam as florestas nativas), ao invés de afirmarem justamente o contrário: que a verdadeira causa deste tipo de epidemia seria o desmatamento destes corredores ecológicos e demais resquícios florestais, seja de forma ilegal ou mesmo “legalizados” pelo poder público.

Segundo matéria da Agência Brasil (2018), “(…) O desmatamento também contribui para a expansão dos mosquitos, já que há perda e fragmentação de seu habitat. “Geralmente as áreas naturais são refúgio desses vetores. O ambiente natural dos mosquitos não é a cidade, geralmente são as florestas, em que eles se autorregulam”. Segundo ele, situações como o desmatamento, degradação de áreas e expansão desordenada em áreas de vegetação podem aumentar a distribuição geográfica dos mosquitos, inclusive para áreas de cidades.
“O mosquito que buscava alimentação dele na floresta, entre os animais, passam a transmitir doenças para as pessoas”. (…)”.


Sendo assim podemos perceber que a questão da preservação ambiental nunca foi (ou não deveria ser) uma questão ideológica, mas como afirma Boudou (2005), uma questão “de cabeça”.

Para as crianças e até para adultos infantilizados (ou sem acesso ao conhecimento), talvez poderíamos ensinar estas ideias através de ‘máximas’. Algumas são muito pedagógicas e de fácil absorção, tais como:

Se você quer água no local e quantidade corretas, sem secas e sem alagamentos, proteja e plante Florestas Nativas“;

Ou como Augusto Ruschi certa vez falou ao fazendeiro de área desmatada no Espírito Santo: “Se o senhor não tem ouvido o coaxar de sapos na floresta à noite, pode se preparar para epidemia de Febre Amarela” (sapos comem mosquitos transmissores);

Ou mesmo como o grande artista Raul Seixas: “Boliram muito com o planeta, o planeta como um cachorro eu vejo. Quando não aguenta mais as pulgas, se livra delas num sacolejo“.

Portanto, diante do atual cenário caótico de Pandemia do Coronavírus, e da infinita ganância política e corporativa mundial com sua bota pisando na cara da humanidade, todos nós percebendo que não se trata de convicção ou ideologia, nem de direita nem de esquerda, até porque não há nada tão democrático quanto as mortes causadas por Pandemias (que não escolhem seus alvos por gênero, nem raça, cor, credo, classe, ou preconceito), só nos resta responder a esta pergunta:

SERÁ QUE AO MENOS AGORA,
CAPITALISTAS, COMUNISTAS E NEOABERRAÇÕES IGNORANTISTAS
IRÃO APRENDER A LIÇÃO SOBRE SAÚDE E PRESERVAÇÃO AMBIENTAL???


Alessandro Chakal

Geógrafo, Músico e Escritor.



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Publicado por Alessandro Chakal

Geógrafo formado pela UFES (Espírito Santo - Brasil); Analista Ambiental e Paisagístico; Analista de Planejamento Territorial e Geoprocessamento (SIG/GIS); foi assessor sênior da Frente Parlamentar Ambientalista do ES (ALES); ex-Conselheiro Estadual de Cultura, na câmara de patrimônio ecológico, natural e paisagístico; Produtor Cultural e Músico (vocalista da banda The Windows - Tributo ao The Doors desde 1994), e responsável pela Agência TURISMO-GEOGRÁFICO: Expedições e Excursões - para o Festival de Jazz & Blues de Rio das Ostras (RJ), e para o Pico da Bandeira e travessia da Cordilheira do Caparaó (ES-MG).

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