Mais uma bomba incendiária de Nietzsche. Para ele, não há ambiguidade, as classes mais altas – a nobreza – são superiores no espírito.
Ele idealiza a figura do suposto cavaleiro ou cavalheiro nobre; tem desigualdade entre os homens, mas essa desigualdade não é de classe social: é a singularidade do sujeito.
E da nobreza sai todo tipo: cultos, idiotas, sádicos, prestativos.
O gênio de cada um não está na classe social. Essa é definida exatamente pelo dinheiro e os graus de parentesco.
Essa concepção de Nietzsche de uma faixa nobre e o resto sendo ralé é muito caricatural.
Isso sendo dito, Nietzsche analisa o mal e… o bem.
E Nietzsche tem também tendência a colocar o bem na mão da nobreza e o mal na “plebe”. Maniqueísmo surpreendente!
É a velha dialética, castelo/choupana, casa grande/senzala.
É a relação senhor, escravo já destacada por Hegel no jogo dialético.
Isso sendo dito, o mal é da plebe sem nobreza de alma e o bem é da nobreza de “brasão”. Nietzsche comete o erro de colocar tudo na psicologia, enquanto se trata de problemas histórico-sociais. Também.
Nietzsche no fundo é um revoltado que termina jogando sua revolta no lado errado da balança. Sua revolta é bela e seus caminhos serpentinos podem se perder. Mas isso: o fato de que a singularidade de um sujeito forte pode fazê-lo mudar de opinião, reconhecer o erro.
Nietzsche se revolta como…os escravos.
Ele não é o Mestre? “Oder Was”?
Quem sofre muito na mão de Nietzsche são as mulheres, parece que ele tem medo delas…
O homem domina (na época de Nietzsche) e uma mulher deve se destacar pela beleza, pela fineza, mas jamais se colocar como aquela que sabe, como o “senhor seu mestre”.
É a época das magníficas mulheres de Gustav Klimt, Egon Schiele que mostram todo esse enigma entre o Eros e o Tanatos.
Nietzsche vê a mulher como subalterna e não como ser humano com seus plenos poderes.
Nietzsche é um precursor de Freud (aliás, eles são contemporâneos) porque ambos lembram ao homem que ele tem um corpo, um sexo e que as instituições (casamento) não tem nada a ver com isso. É o lado negativo de Nietzsche, lá onde seu temperamento explosivo funciona bem na revolta, mas fracassa quando quer abordar um assunto mais delicado como é o caso da mulher. Parece que ele precisa de um bode expiatório (democracia, classes sociais) e dessa vez é a mulher. Tudo bem, essa não é um anjo – nem um demônio, mas também não é essa entidade negativa que Nietzsche apresenta.
Na vida, se diz que Nietzsche era muito cortês com as mulheres e ele mesmo as aconselhava a não ler seus livros; há de distinguir o homem e o escritor.
Nietzsche fala em outros livros de “filosofia com o martelo” (Não tem nada a ver com o comunismo), mas ele é vítima do sintoma de “vitimização”. Procura algo ou alguém responsável pelo “meu estado paralelo”. E em outros livros ele critica ferozmente os judeus, felizmente aqui é o contrário, ele os elogia como “raça” forte que sobrevive sem ter mais território.
Nietzsche é um homem de dor, mas ele tem o pudor ou a elegância de não se derramar em poemas lacrimejantes como Lamartine. Não quer dizer que ele não tem sentimento, mas ele tem pudor, palavra que volta várias vezes. É um homem de dor, mas que não se identifica com ela, é seu lado não cristão, apesar de que ele tem uma espécie de admiração por Cristo (ver o livro O anticristo). Ele se identifica também com Dionysos, deus grego dos mistérios embriagados, do sexo, e Cristo e Dionysos têm muito em comum (de vinho), eles nasceram de uma mulher mortal, mas filhos de Deus, eles são torturados, morrem e ressuscitam. Enfim, a bebida de ambos é o vinho.
O problema é de saber como Nietzsche vai fazer para criar seu super-homem mais livre, mais bondoso, mas cruel, maldoso, se colocando nos bancos de réu da inquisição.
Entretanto no livro O anticristo, Nietzsche faz um relato de Cristo que é o melhor que já vi.
Para ler Nietzsche, um conselho: deixe sua lógica no vestiário. Esse descompromisso com a lógica faz com que ele se aproxime dos poetas; obviamente o “Zaratustra” é poesia de primeira qualidade que lembra a Bíblia e os livros sagrados em geral.
Com esse escrito (sobretudo no “Zaratustra”) ele se reaproxima dos pré-socráticos e vê Sócrates como aquele que pervertera a poesia, a criação artística.
Nietzsche não é inocente no fato que ele foi usado pelos nazistas como mestre-pensador, mas ele também não é culpado, porque em seus livros há algo com o seu contrário não respeitando o princípio da não contradição que é o da matemática e da filosofia cartesiana.
Nietzsche é tanto poeta, quanto escritor e filósofo; observação interessante, ele tem tudo a ver com o espírito brasileiro, com a mentalidade brasileira: por causa de Dionysos. Por isso que ler Nietzsche no Brasil tem todo o sentido para a própria identidade brasileira.
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Um terceiro olho sobre Nietzsche. Legal!
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Que bom que gostou, Kavazz! O Gilbert Chaudanne é bom demais né?!
Obrigado pelo apoio, querida!
Abraço!
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